Imagine caminhar pelas ruas de Bilbao, na Espanha, e de repente se deparar com uma estrutura que parece ter saído diretamente de um sonho futurista. Formas curvas em titânio brilhante que desafiam toda lógica construtiva tradicional, criando um espetáculo visual que transformou não apenas a paisagem urbana, mas toda a economia da cidade. Este é o poder transformador da arquitetura de Frank Gehry, um dos nomes mais revolucionários da arquitetura contemporânea.
Frank Owen Goldberg — este era o nome de batismo do homem que viria a ser conhecido mundialmente como Frank Gehry. Nascido em 28 de fevereiro de 1929, em Toronto, Canadá, filho de imigrantes judeus com raízes russas e polonesas, Gehry teve uma infância que moldaria profundamente sua visão arquitetônica.
No armazém de ferramentas de seu avô, o jovem Frank brincava de construir pequenas cidades usando madeira, metais e sucatas. Quem diria que essas brincadeiras de criança se tornariam a essência de uma das arquiteturas mais inovadoras do século XX?
Em 1947, Gehry se mudou para Los Angeles, onde estudou arquitetura na University of Southern California (USC). Mais tarde, complementou sua formação com estudos de planejamento urbano em Harvard. Após trabalhar em outros escritórios e ganhar experiência internacional em Paris, em 1962 abriu sua própria firma: Frank O. Gehry & Associates, que posteriormente se tornaria Gehry Partners.
Gehry é um dos nomes mais associados ao movimento deconstructivista. Suas obras apresentam formas fragmentadas, ângulos inesperados e volumes que parecem ter sido esticados, dobrados e desconstruídos. Ele desafia constantemente a rigidez geométrica tradicional, criando espaços que questionam nossas percepções sobre o que a arquitetura pode ser.
Uma das características mais fascinantes do trabalho de Gehry é sua predileção por materiais não convencionais. Chapas metálicas onduladas, madeira crua, compensados, malhas e grades de metal — materiais que tradicionalmente seriam considerados “utilitários” ganham status artístico em suas mãos. Essas superfícies “imperfeitas” não são defeitos, mas elementos centrais de sua expressão plástica.
Gehry rompe completamente com as formas retas e previsíveis. Suas criações ondulam, dobram-se e fluem como esculturas monumentais. As fachadas assimétricas, com elementos “flutuantes” e projeções ousadas, criam uma sensação de movimento perpétuo, como se os edifícios estivessem dançando.
As formas complexas de Gehry não seriam possíveis sem o uso de tecnologia avançada. Ele foi pioneiro no uso de softwares como CATIA (originalmente desenvolvido para a indústria aeroespacial) para modelagem tridimensional, permitindo converter seus modelos conceituais em estruturas executáveis na prática.
Em Praga, República Tcheca, Gehry criou uma de suas obras mais simbólicas em colaboração com o arquiteto croata-tcheco Vlado Milunić. O edifício, que abriga hoje um hotel de luxo, representa um casal de dançarinos inspirado em Fred Astaire e Ginger Rogers.
A torre de vidro ondulante (Ginger) dança eternamente com a torre de pedra mais sólida (Fred), simbolizando a transição da Tchecoslováquia do regime comunista para a democracia parlamentar. Construído com 99 painéis de concreto únicos, o edifício ganhou o prêmio de Design do Ano da Time Magazine em 1997. Leia mais aqui.
Se existe uma obra que define o impacto transformador de Gehry, esta é o Guggenheim Bilbao. Com suas formas curvas revestidas em titânio, o museu não apenas se tornou um ícone arquitetônico mundial, mas também criou o famoso “efeito Bilbao” — quando um único edifício revoluciona toda a economia e o turismo de uma cidade.
Em Los Angeles, o Walt Disney Concert Hall representa a maestria de Gehry em combinar forma e função. Suas fachadas metálicas onduladas não são apenas esteticamente impressionantes, mas também contribuem para a acústica excepcional do espaço interno.
Tudo começou em casa. A remodelação de sua própria residência em Santa Monica foi um dos primeiros sinais de sua estética revolucionária. O envoltório metálico e as estruturas angulares criaram uma sobreposição fascinante entre o antigo e o novo.
Esta torre residencial em Nova York mostra como Gehry aplica sua visão também à habitação urbana. A fachada dinâmica em aço inox abriga layouts únicos de apartamentos, combinando uso residencial com amenidades e comércio.
Em Paris, esta estrutura que remete a velas ao vento abriga arte contemporânea em um espaço que é, ele próprio, uma obra de arte. O uso de vidro curvo e superfícies reflexivas cria uma leveza visual surpreendente.
A mais recente obra icônica de Gehry, esta torre de artes no sul da França, com sua fachada refletiva composta por milhares de painéis de aço, mostra que, aos 90 anos, o arquiteto continua inovando.
Para aqueles interessados em experimentar a vida em espaços projetados por este mestre, algumas de suas residências já estiveram disponíveis para aluguel, como apartamentos no 8 Spruce Street em Nova York, ou a histórica Spiller House em Venice Beach, Califórnia.
Frank Gehry não é apenas um arquiteto; ele é um artista que usa concreto, aço e vidro como pincel. Suas obras não são meramente edifícios — são experiências, provocações visuais que nos forçam a repensar nossa relação com o espaço urbano.
Aos 96 anos (em 2025), Gehry continua ativo, provando que a criatividade não conhece limites de idade. Seu trabalho nos ensina que a arquitetura pode ser ousada, emocional e transformadora, desafiando convenções e criando novos paradigmas.
Em um mundo onde a arquitetura muitas vezes se rende ao pragmatismo puro, Frank Gehry nos lembra que é possível — e necessário — sonhar com espaços que inspirem, provoquem e transformem não apenas paisagens, mas também vidas humanas.
A próxima vez que você se deparar com um edifício que pareça ter saído de outro planeta, pergunte-se: será que Frank Gehry passou por aqui? E mesmo que não tenha sido ele, certamente foi inspirado pelo legado de alguém que ousou transformar sonhos de criança em realidades arquitetônicas monumentais.
Foto destacada Ashim Silva (reprodução)
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