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Decoração minimalista: como aplicar no design de interiores?

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O minimalismo é um movimento simples, mas que veio longo dos ultimos anos abraçando várias características e hoje se manifesta em um verdadeiro modo de viver.

A decoração minimalista é muito procurada na hora de pensar em projetos de interiores. Isso se deve, principalmente, por sua abordagem simplificada e funcional. No entanto, reduzir o minimalismo a uma categoria meramente estética seria reduzir a importância do movimento e minar seu potencial.

Neste post, te apresento:

  • a história da estética minimalista;
  • a diferença desse estilo para outros semelhantes;
  • quais elementos não podem faltar num projeto de decoração minimalista;
  • e como aplicar na prática.

Além disso, conheça projetos referência dentro da arquitetura brasileira.

Referência histórica do minimalismo

O consenso geral é que a estética minimalista surgiu nos Estados Unidos, em meados da década de 1960, muito influenciada pelas necessidades impostas pela escassez da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, manifestações estéticas anteriores já evocavam o valor reformista do minimalismo: a escola Bauhaus, no final da década de 1910 e outras correntes estéticas como o cubismo e o construtivismo russo. 

Se consolidou como um movimetno através de artistas americanos como Donald Judd, Frank Stella e Agnes Martin. Eram artistas que buscavam se distanciar do abstracionismo e das normas tradicionais de representação que buscavam a máxima “imitação da realidade”. 

Podemos definir o minimalismo estético como uma ramificação da filosofia minimalista, nascida como resposta aos excessos, e influenciada pela arte e arquitetura modernista. É daí que surge o famoso “less is more” que. mais do que um slogan, é um jeito de viver — e (por que não?) projetar.

Diferenças entre minimalismo, modernismo e escandinavo

A esta altura, acho que você já entendeu do que se trata o minimalismo e, como, a partir da arquitetura, a decoração minimalista se manifesta.

No entanto, alguns termos ainda geram confusão no senso comum. Entre eles estão movimentais mais tradicionais como o minimalismo e omodernismo, mas também outros mais recentes como estilo escandinavo.

A Suécia, por exemplo, é um destino em que o estilo escandinavo é comum. O país está dominando o turismo do sono com inúmeras técnicas, entre elas um estilo de desenhar interiores que combate o estresse visual e favorece o essencial. Mas isso, por mais que lembre, não é exatamente o minimalsimo.

MinimalismoModernismoEscandinavo/Lagom
FilosofiaViver com o essencial, evitando o acúmulo e o excesso.“A forma segue a função”; inovação tecnológica e praticidade.Equilíbrio e moderação para criar um ambiente acolhedor e funcional.
Materiais TípicosConcreto, aço, vidro.Aço, vidro, cromo, concreto..Madeira clara, lã, pele, cerâmica, fibras naturais.
Paleta de CoresEstritamente neutra (preto, branco, cinza).Neutra com uso de cores primárias como destaque.Neutra com toques de tons pastéis e cores da natureza.
Objetos de DecoraçãoMínimos ou ausentes, sem adornos.Limitados, focados em sua função.Peles, tapetes, plantas, velas, mantas, itens que trazem calor.

No 11 Howard, o estúdio Space Copenhagen aplica o estilo escandinavo não como uma versão fria do minimalismo, mas como um refúgio acolhedor e funcional. | Foto: Space Copenhagem (reprodução)

A decoração minimalista vem ganhando força nos últimos anos, pois traduz a necessidade contemporânea de respirar em meio ao excesso de estímulos. Ele responde ao desejo de viver de forma mais consciente e sustentável. Continue lendo para entender como equilibrar estética e propósito conhecendo a fundo as características do minimalismo no design de interiores.

Princípios fundamentais do minimalismo e como se manifestam na decoração

Na Suécia, onde a promoção do turismo do sono redefine o descanso, descobre-se que dormir bem pode ser uma experiência de design que cuida do corpo e da mente. | Foto: Santa Clara (Reprodução)

“Menos é mais”

“Menos é mais” foi uma  frase imortalizada pelo arquiteto Mies van der Rohe. E a decoração minimalista segue essa mesma filosofia principal, onde ter menos coisas, de forma consciente, permite que cada objeto e espaço tenha um propósito claro.

Funcionalidade acima da ornamentação

Na decoração minimalista, a utilidade de um objeto é mais valorizada do que sua capacidade de decorar. O design de cada peça e mobiliário deve refletir sua função. Isso resulta em um ambiente sem ornamentos desnecessários. A beleza, aqui, reside na usabilidade, e como está se manifesta no objeto de forma eficiente e discreta.

Qualidade > Quantidade

Assim como na filosofia, no design de interiores, o estilo minimalista significa abrir mão de itens de baixa qualidade dando preferência a poucas peças que são duráveis e atemporais. Toda ambientação faz parte de um movimento de consumo mais sustentável a longo prazo.

Harmonia vs Simplicidade

Na decoração minimalista, a simplicidade é um método. E a harmonia é o objetivo final. O objetivo da simplicidade é a clareza visual. Então, formas, volumes e proporções ganham destaque, tornando o ambiente naturalmente agradável.

Na prática: da filosofia ao projeto

Num espaço pensado com decoração minimalista, precisa haver um alicerce e este pode ser uma cor, uma material, uma peça de design… É preciso algo que organize toda percepção. 

Paleta de cores

A sorveteria Buza, em Tel Aviv, combina tons de cinza e verde azulado para criar um ambiente minimalista que dialoga com a arquitetura industrial ao redor.| Foto: Sorveteria Buza (Reprodução)

Partir de cores minimalistas, como os brancos, cinzas, beges e preto, permite um pano de fundo onde o projeto respira. Isso não significa dizer que apenas essas cores podem ser a escolhidas. No entanto, a proposta pede monocromia, o segredo está em variar temperaturas, matizes e acabamentos para criar profundidade sem ruído, mantendo a leitura do ambiente contínua.

Materiais e texturas

No restaurante Dois Trópicos, o MNMA Studio utiliza texturas orgânicas para criar um ambiente que uma experiência sensorial acolhedora. | Foto: Dois Trópicos (Reprodução)

Materiais contam a história de um ambiente antes mesmo do mobiliário.

No design de interiores do estilo minimalista, as superfícies sustentam uma estética tátil que, muitas vezes, dispensa ornamento. Os materiais podem ser madeira, pedra, cimento queimado, gesso liso. São infinitas possibilidades. Texturas são baixas em contraste, mas não menos ricas ao toque, e se tornam “detalhe decorativo”. 

Mobiliário

Na arquitetura minimalista, o mobiliário trabalha como escultura funcional. Assim, o designer de interiores pede peças de linhas limpas e de geometria simples. A ideia central é focar no uso e circulação, propondo menos volume e mais intenção. Prefira poucos itens — um sofá com base aparente, uma mesa com tampo delgado, cadeiras de madeira torneada.

Iluminação natural e artificial integrada

Uma lição nórdica clássica: de dia, superfícies claras e aberturas amplas favorecem a entrada de luz natural. Luz é matéria. Logo, ao anoitecer, camadas discretas (luz indireta, pontos de tarefa e focos suaves) mantêm a atmosfera acolhedora, revelando texturas e desenhando volumes. A iluminação indireta suaviza sombras duras e preserva a atmosfera suave típica do minimalismo; soluções human-centric permitem ajustar temperatura de cor e intensidade conforme a atividade, reforçando bem-estar e foco. 

Organização e ordem visual

É simples. Na prática, significa cabos ocultos, superfícies desobstruídas e sistemas de armazenamento invisível. Nichos embutidos, portas de correr camufladas e organizadores internos permitem que a rotina se mantenha prática sem gerar poluição visual. 

Aplicação prática por ambiente

Sala de estar

Os interiores assinados por Antoni Esteva unem texturas terrosas, pedra local, madeira e tecidos natural. | Foto: Es Raco d’Artà (Reprodução)

É imprescindível priorizar a circulação e o convívio na hora de projetar uma sala de estar minimalista. Um sofá mais statement pode ancorar o espaço, um tapete pode ser usado para definir zonas (assim como um aparador) ou  uma peça de destaque (obra de arte ou poltrona). Evite acúmulo de mobiliário e escolha com intenção.

Quarto

CTRLZAK studio trouxe um minimalismo moderno e sofisticado, onde cada material, textura e sombra convida à contemplação. | Foto: Ekies All Senses (Reprodução)

É preciso mais cuidado ao pensar em uma decoração minimalista para este cômodo. A atenção maior deve ser em manter o aconchego no ambientes. Projete com e para tranquilidade: cama como ponto focal, texturas suaves e iluminação quente, focal e controlada ajudam a criar uma atmosfera de descanso. Vale recorrer ao estilo escandinavo, citado anteriormente. Aposte em texturas naturais.

Cozinha

O projeto do Takeo Imai Architecture Office reflete a estética japonesa contemporânea: madeira, linhas simples e iluminação natural. | Foto: Yoruya (Reprodução)

Dentro da estética minimalista, a cozinha deixa de ser apenas espaço funcional e passa a integrar a área social. Isso exige clareza visual e eficiência.

Combine praticidade e estética: superfícies lisas, eletrodomésticos integrados, bancadas de fácil manutenção e armários sem puxadores aparentes, criam continuidade. Uma ilha ou balcão precisa conversar com a sala de estar. Bancadas em pedra natural, quartzo ou concreto reforçam a autenticidade e o toque humano.

Banheiro

No banheiro projetado por Saulius Mikštas, minimalismo e o estilo clássico unem pedra, metal e cerâmicas. | Foto: Hotel Pacai in Vilnius (Reprodução)

Um banheiro de uso doméstico é tratado como um espaço de pausa e bem-estar. As cores minimalistas ajudam a ampliar a sensação de amplitude em áreas geralmente compactas.

Os materiais naturais como pedra, concreto polido, madeira tratada e cerâmica de acabamento fosco criam texturas sutis sem sobrecarregar. Bancadas suspensas e nichos embutidos dão leveza, além de manterem a continuidade visual. Aposte em iluminação em camadas: luz difusa e pontos direcionados para tarefas.

Home office

Os quartos assinados por Onni Tarjanne combinam linhas limpas e paleta neutra, equilibrando minimalismo e aconchego. | Foto: St. George Hotel (Reprodução)

Trabalhar em casa já é cheio de distrações, e quando o espaço está visualmente poluído, a mente sente ainda mais. Um home office no estilo minimalista cria essa atmosfera de respiro: tons neutros e cores minimalistas dão base tranquila, enquanto um detalhe em madeira ou metal traz vida sem carregar.

A organização também vira aliada: gavetas embutidas, caixas discretas ou painéis que escondem cabos ajudam a manter tudo no lugar sem esforço.

Se a mesa ficar próxima à luz natural e só o essencial permanecer à vista, o ambiente se torna apoio real para o foco e a produtividade.

Erros comuns e como evitá-los

Confundir minimalismo com vazio

O erro mais frequente quando se pretende uma decoração minimalista são superfícies nuas e silêncio visual. O que vai fazer a diferença, nesse estilo, é a curadoria. Minimalismo é falta, 

Negligenciar o conforto pela estética

Muitas pessoas rejeitam a estética minimalista por interpretá-la como sinônimo de desconforto. Isso só acontece quando a premissa maior, a usabilidade, não é levada em consideração. Teste assentos e preveja zonas de uso para que a estética não se torne um obstáculo ao cotidiano.

Monotonia excessiva

Uniformidade sem contexto vira monotonia. O ideal é variar os tons das cores e as texturas com sutileza. Uma parede texturizada, um móvel de madeira mais um pouco mais quente, ou um ponto vibrante discreto são suficientes para romper a monotonia. O truque é criar hierarquias visuais para que cada objeto tenha lugar e função.

Falta de personalidade

A identidade de um projeto de interiores vem de objetos escolhidos com intenção: uma peça de família, um livro ou uma fotografia assumem o papel de assinatura.

A chave para autenticidade é trabalhar narrativas curtas, ou seja, poucas peças com história. 

Inspirações e Referências

Inspirações atemporais

Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi aparecem como referências inevitáveis: ambos mostraram que economia de meios pode coexistir com gesto expressivo. Suas obras ajudam a ler o minimalismo não como apenas exercício formal, mas como escolha ética de composição.

Projetos brasileiros de destaque

No restaurante Dois Trópicos (MNMA Studio) , tijolos artesanais, terra projetada e uma botânica proposital elevam a materialidade sem ornamentos desnecessários. Há, no projeto,  um vínculo explícito com a estética japonesa do wabi-sabi, que privilegia a imperfeição como sinal de autenticidade.

No campo hoteleiro, o Emiliano SP(intervenção do Studio Arthur Casas) demonstra como a luz, a vista e a qualidade dos interiores trabalham juntos para transformar uma coleção reduzida de peças em uma experiência espacial memorável.

O Unique Garden Mairiporã une a arquitetura de Ruy Ohtake, jardins conservados de Burle Marx e o compromisso ambiental com Mairiporã. O resultado é uma simplicidade projetual que serve de apoio aos programas complexos de bem-estar oferecidos pelo hotel. Esse é um exemplo brasileiro de como o design de interiores, dentro do estilo minimalista, pode dialogar com a ecologia.

O Fuso Concept Hotel, em Florianópolis, é um que aposta fielmente nas linhas contemporâneas a partir de volumes contidos, integração com a mata e interiores que privilegiam materiais selecionados e mobiliário icônico.

Neste post, percebemos que uma decoração minimalista não se trata apenas de estética, mas de uma forma de pensar o espaço: cada cor, material e escolha de mobiliário têm uma razão de estar ali. 

Seja numa sala de estar acolhedora, num home office silencioso ou em quartos aconchegantes, percebemos que o estilo minimalista dentro do design de interiores não significa ausência. Aproveite para ler outros posts da Dona Arquiteta, que exploram outros estilos.

Duvidas comuns sobre decoração minimalista

O que quer dizer decoração minimalista?

É um estilo de design de interiores que valoriza a simplicidade e a funcionalidade dos espaços, evitando excessos visuais.

Como fazer uma sala minimalista?

Priorize móveis de linhas retas, paleta de cores neutras, iluminação natural, poucos objetos decorativos e soluções de armazenamento invisível para manter o ambiente organizado.

Quais são as três cores neutras do minimalismo?

Branco, cinza e bege, usadas em diferentes tonalidades.

Como criar um ambiente minimalista?

Defina o essencial, escolha materiais naturais, aposte em cores minimalistas, mantenha a ordem visual e valorize a luz natural para equilibrar estética e funcionalidade.


Leia mais:

referências

Sarah Borges

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