Chegar a Lecce, Itália, é ser atravessado por algo difícil de nomear. Há uma quebra de expectativa logo de cara: a luz é mais terrosa, o tempo parece mais lento e os prédios são esculpidos em pedra clara. Chamá-la de “Florença do Sul” ajuda a situar, mas o barroco leccese não copia ninguém: ergue-se com autoridade, como quem sabe que beleza também pode ser maximalista.
É nesse cenário de contrastes vívidos — entre o barroco e a arte italiana contemporânea — que artistas e designers têm chegado em busca de inspiração. Mais acessível do que outras cidades italianas, Lecce oferece estrutura sem saturação. A oferta de espaços criativos e a presença de ateliês tornam a cidade uma alternativa concreta a centros maiores. Para quem procura o que fazer e onde ficar em Lecce neste post, resumimos tudo para você.
Primeiro vem a luz mais baixa, mais quente, mais próxima da pele. Depois, uma vontade de tocar as paredes. Parece exagero, mas Lecce não começa pelos olhos: começa pelas sensações de que tudo lá foi feito com tempo e com atenção aos detalhes. Tem algo no ar, talvez o cheiro de pedra antiga misturado ao café recém passado, que deixa tudo meio suspenso. Lecce, na Itália, faz você andar mais devagar, como quem precisa decifrar.
Dá para ir de carro para quase todo lugar na cidade. Uma estrada leva ao mar, outra atravessa oliveiras até alguma vila branca. Lecce não é o centro, mas tudo gira em torno dela sem precisar de pressa. Lecce fica no sul da Itália, entre os mares Adriático e Jônico, com acesso fácil a partir de Bari e Brindisi, seja de carro, ônibus ou trem.
Chamar Lecce de “Florença do Sul” é pouco. A comparação serve para localizar no mapa mental de quem nunca foi, mas não dá conta do que se sente andando ali. A luz, o sotaque, o ritmo, a comida que sai do forno e do balcão, o exagero das fachadas e o que se escava sob elas: Lecce mostra mais do que o apelido emprestado dá a entender. Ela sustenta a própria força.
Lecce não segue os padrões de Roma ou Florença. O barroco não impressiona pelo tamanho, mas pela quantidade de detalhes. A pedra usada nas construções é especial: quando retirada da pedreira, é mole e fácil de esculpir. Depois, com o tempo, ela endurece. Por isso, os artesãos conseguiam fazer rostos, flores, animais e outros enfeites bem trabalhados nas fachadas. A cidade viveu uma fase de riqueza e influência da Igreja durante a Contrarreforma, e muita energia foi colocada na construção de igrejas.
O barroco daqui não é só ornamento, não tenta agradar, impõe presença e feito para ser visto de perto. E entre uma mordida num pasticciotto — um pequeno pastel individual, de formato oval, doce emblemático da confeitaria italiana — e um gole de café, você ouve sinos, cheira jasmim, se pergunta o que moveu tanta pedra e tanta mão. Lecce provoca curiosidade, desafia, envolve quem passa por ela.
Lecce, na Itália, é muito bonita e quente. No centro histórico, quando o sol bate com força ao meio-dia, parece que tudo fica ainda mais claro. A luz intensa realça a cor da pedra usada nas construções — um calcário claro, típico da região — as paredes das construções quase cega de tão brancas.
No centro, a Basílica de Santa Croce é provavelmente o prédio que mais chama atenção. A fachada é cheia de detalhes: animais, rosto, fruta e figuras mitológicas esculpidas misturadas num estilo carregado, comum ao barroco. Parece até que fizeram tudo de propósito para ninguém passar reto.
Na mesma linha, a Piazza del Duomo impressiona pelo tamanho das construções ao redor — igreja, campanário, tudo enorme. Apesar do calor, o centro histórico é bem servido de sombras, com pequenas ruas estreitas que conectam praças e igrejas. Tudo pode ser percorrido a pé.
Enquanto Lecce parece esculpida à mão, como se cada fachada fosse uma declaração de orgulho barroco, numa unidade que impressiona, Nardò tem sua própria beleza. Sim, a Piazza Salandra impressiona, a Catedral guarda surpresas góticas, mas a escala é outra. Você anda três ruas e já não tem mais certeza se continua no barroco ou se já foi.
Ostuni parece outro país. É branca e toda dobrada. Parece que veio da Grécia de barco. Já sua Catedral até tem algo gótico, mas o barroco ali é detalhe de canto, não ocupa espaço. Palermo, por outro lado, mistura tudo. Tem mosaico árabe, igreja normanda, prédio do século XIX e vitral art nouveau, tudo na mesma quadra. Lecce não confunde. Lecce é uma ideia só, levada ao máximo.
Lecce tem três tipos de artesanato que ainda funcionam: cartapesta, pedra leccese e cerâmica.
A cartapesta surgiu como solução prática para fazer santos leves e baratos — o processo envolve camadas de papel (geralmente papel de jornal) embebidas em uma cola feita de farinha e água, aplicadas sobre um esqueleto de arame.
A pietra leccese é usada até hoje porque é fácil de esculpir — é uma pedra calcária maleável quando extraída, permitindo aos escultores uma liberdade para criar os intrincados detalhes que definem o barroco local. Ela endurece com o tempo.
A cerâmica não é tão forte por lá, mas ainda resiste — a presença de argila na região e a necessidade de utensílios para o dia a dia e para a armazenagem de azeite e vinho, fomentaram a produção de cerâmica desde a Antiguidade.
Tudo isso gera renda, sustenta oficinas pequenas e mostra como a tradição também é trabalho. Não é só cultura, é economia local.
Reunindo arte, arquivo e tecnologia, o Fiermonte Museum é um espaço cultural com foco na trajetória de Antonia Fiermonte e sua conexão com dois escultores franceses. Holografia, cartas, esculturas e vídeos ajudam a entender o elo entre vida íntima e produção artística.
Onde fica: Vicolo dei Raynò, 35.
A Linea, galeria e escola de arte em Lecce, Itália, é um lugar de fricção e conversa. Reunindo arte, crítica e processo num mesmo espaço, funciona como antena para o que pulsa em Lecce e na Puglia. Numa cidade profundamente ligada à tradição barroca, ela atualiza o vocabulário visual com artistas que olham para frente, insistindo em outra língua — uma que continua sendo escrita.
Onde fica: Via Gabriele d’Annunzio 77.
Nada ali se acomoda. Nem a arte pendurada, nem a fachada clássica restaurada com certa vontade de pertencer ao agora. O Palazzo delle Arti, fundado por Tiziano Giurin, insiste em provocar — entre um Warhol e um artista emergente, entre o que Lecce guarda e o que ainda inventa.
Onde fica: Via 47 reggimento di fanteria 21.
A Fondazione Biscozzi Rimbaud fica num prédio antigo de Lecce, mas não tem nada de velho. É um lugar direto: arte moderna e contemporânea, sem distração. Tem Albers, Burri, Schifano — nomes que talvez você já tenha ouvido, talvez não, mas que, ali, fazem sentido juntos. O percurso é cronológico, interessado em ver de perto como certas ideias se repetem e como outras quebram tudo.
Onde fica: Piazzetta Giorgio Baglivi, 4.
Estas são algumas das galerias de arte mais diferenciadas em Lecce, na Itália. Mas você também pode incluir opções mais tradicionais como a Galleria d’arte Arca, que se destaca pelo diálogo entre artistas locais e internacionais; o Museo Ebraico di Lecce, que preserva a história da comunidade judaica na região; o Museu Castromediano, com seu vasto acervo arqueológico e histórico; o Parco delle Cave, projetado por Álvaro Siza, conhecido pela intervenção contemporânea em antiga pedreira; e o Arquivo Vivo, criado por Eugênio Barba, que reúne documentos e registros do Odin Teatret, referência em teatro experimental.
Lecce, aos poucos, vem conquistando artistas em busca de algo além do óbvio. Tem gente que chama a cidade de “museu a céu aberto”, e com razão. Mas o que a torna especial vai além da beleza barroca espalhada pelas fachadas douradas. Lecce é um terreno fértil para quem cria.
Há também uma questão prática que não deve ser subestimada. Ao contrário das metrópoles italianas mais famosas — e caras — Lecce oferece um custo de vida mais leve, o que pode fazer toda a diferença para quem precisa de fôlego (e espaço mental) para desenvolver um projeto. Soma-se a isso o ritmo desacelerado da Puglia, que convida ao mergulho criativo, sem pressa, sem ruído.
No fim das contas, Lecce não é só um bom lugar para ver arte. É um daqueles poucos lugares onde criar faz sentido. Onde história e invenção caminham lado a lado.
O La Fiermontina parece pequeno quando visto da rua, mas guarda espaços que surpreendem. Não é hotel de ostentação, e sim de escolhas. Um casarão do século XVII restaurado por um arquiteto local, Antonio Annicchiarico, onde se mantiveram tetos abobadados, paredes de pedra leccese, e se colocou arte com intenção — esculturas de Letourneur, móveis assinados, peças da família Fiermonte.
É tudo muito controlado: iluminação, materiais, proporção. E, ao contrário de outros hotéis que apenas exibem obras, aqui elas pertencem. A piscina não tenta ser exótica, mas é eficaz contra o calor seco. Dá para sair a pé e em cinco minutos já está na Piazza Duomo.
Endereço: 38 Via Umberto I.
Preços: A partir de US$912* [diária, casal]
Acessibilidade: os quartos superiores são acessíveis a cadeirantes.
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Lecce, Itália, aparece aqui como uma cidade que vale ser observada com mais atenção por quem se interessa por arquitetura e quer entender como o passado barroco convive com uma produção contemporânea viva. Do Piazza del Duomo ao La Fiermontina, este texto mostrou como a materialidade da cidade acompanha um pensamento que mescla memória e presença.
Se você está planejando onde ficar em Lecce, este post foi um ponto de partida. Vale a pena continuar a leitura com outros posts sobre o sul da Itália — especialmente se cidades menores e bem projetadas estão no seu radar.
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referências
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