NasoRosso
Endereço: Via IV Novembre, nº 51 – Crema – Província de Cremona – Itália.
CREMA, NA ITÁLIA – sob a base de um edifício cujo design pós-moderno se destaca no cenário de Crema, surge este espaço dividido entre adega e restaurante. Arquitetura e gastronomia se expressam de maneira igual. A tradição da culinária italiana explora novas formas e estruturas, compondo um cenário moderno que homenageia o passado. Estamos no NasoRosso Ristorant.
NasoRosso – nariz vermelho, em italiano – não é um nome novo. O restaurante já existia e era (ainda o é) reconhecido como uma instituição culinária que se firmou ao longo do tempo com base na autenticidade de sua história, da qualidade da cozinha e da atenção aos clientes.
O antigo restaurante deixou de existir e passou a ter uma nova identidade dentro de um novo espaço, instalado não muito longe do antigo. O objetivo do projeto era a criação deste novo espaço, contextualizando tanto a carga histórica do estabelecimento quanto sua proposta gastronômica.
Distribuídos em 200 metros quadrados de construção e instalado na base de um prédio pós-moderno, o novo NasoRosso divide espaço com a (igualmente antiga) adega Il Milllesimo. Ela recebe este nome por seu enorme catálogo: são mais de mil rótulos selecionados e disponíveis aos clientes.
É difícil desenhar onde um espaço cede aos serviços do outro, sendo mais adequado afirmar que ambos harmonizam. No local ainda acontecem tanto os jantares, quanto encontros para troca de conhecimentos gastronômicos na forma de palestras e workshops.
RESPONSÁVEIS PELO PROJETO
O projeto NasoRosso foi desenvolvido pelo escritório de arquitetura TIPs Architecture. A firma italiana, com sede em Crema, foi fundada pelos arquitetos Paolo Capuano e Marco Venturelli. Fundada em 2010, busca explorar em seus projetos os conceitos de inovação, modernidade, sustentabilidade e sociedade através da arquitetura.
Através do novo espaço, é possível ver estes conceitos sendo aplicados. O novo restaurante ampliou as possibilidades do NasoRosso, sem transformar sua essência ou guiar o projeto na direção de uma mera mudança de ambiente.
Na condução deste projeto, firmaram parcerias com outras empresas de design na região, entre elas:
O interior do NasoRosso não é óbvio e linear. No centro da superfície, o ritmo é interrompido por uma clareira. Um poço de luz natural cai do teto e é cercado por paredes de vidro. Este espaço, que funciona tanto como vitrine como ponto de partida para entender o projeto, é morada da horta e de uma grande oliveira. É funcional: além de ornamental, são cultivadas ali as ervas utilizadas no menu.
A separação entre o Naso Rosso e o Il Millesimo não é feita através de paredes ou subdivisões, mas pelo uso diferenciado das paredes, estantes, prateleiras e recursos de iluminação. A adega é escura – quase dramática – e delineada por paredes revestidas de MDF preto sem tratamento, apenas lixadas e feitas de madeira recuperada.
Já o design dos espaços dedicados ao restaurante Naso Rosso é mais equilibrado. A proposta visual é acolhedora, alegre e bem iluminada. O comprimento é acompanhado por uma longa cortina de tecido azul. Além dela, um painel de madeira estampado com padrões de pontilhado. Alternadamente, surgem telas pintadas pelo histórico gerente do NasoRosso.
Dessa forma, Paolo e Marco estabelecem uma sutil – porém reconhecível – forma de homenagear o passado do restaurante.
O NasoRosso não é um restaurante tradicional. Seu cardápio é inovador e fonte de preparações que se destacam tanto pela combinação de ingredientes, quanto pelas técnicas empregadas. Um exemplo são os Macarrons salgados. Recheados com patê de fígado de galinha, são servidos sob uma cama fina de molho de beterraba, guarnecidos com Mostarda (o doce, e não o condimento) e decorados com folhas de azedinha-vermelha.
A Mostarda, não raro confundido com o condimento preparado à base dos grãos da planta homônima, é um doce típico italiano a base de frutas. Tem origem no reaproveitamento de uvas que seriam descartadas na produção de vinhos. Cada região italiana costuma ter seu próprio tipo de Mostarda tradicional, sendo a mais conhecida – justamente – a Mostarda di Cremona. É um toque tradicional à preparação.
Outra preparação que inova através dos clássicos, mais robusta, é o La Pajata. Trata-se de um novo olhar à um prato típico da região de Lácio (chamado “I rigatoni alla Pajata”). A Pajata tradicional é preparada com bucho de vitelo, porém a revisão do NasoRosso utiliza Garum (um condimento romano a base de caldo fermentado de Cavala). O prato é acompanhado de favas e queijo pecorino.
Muito consumido na região, a carne de cordeiro também aparece no menu. É difícil não ser seduzido por esta costeleta de cordeiro com feno, guarnecida com batatas roxas e alcachofras da Sardenha. Muito comum na antiguidade, a utilização do feno em preparações tem sido resgatada pela gastronomia europeia. Neste prato em específico, o NasoRosso nos serve o frescor e sabor herbal do feno Maggengo (como é chamado aquele colhido no período de Maio).
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Entre as sobremesas servidas no cardápio, o NasoRosso destaca uma mousse de caramelo coroada com chocolate Lindt. Servida sobre uma cama de biscoito integral, é envolta em uma leve camada de manteiga de cacau e pó de cacau. Quando entregue na mesa do cliente, a mousse vem acompanhada de um tubo de ensaio que guarda a cobertura final: um creme branco aromatizado com uísque Coal Ila.
O chocolate acima da mousse é de café. Combinado com os sabores amanteigados e pó de cacau, compõe uma sobremesa que flerta com as memórias de um clássico Tiramissú italiano. É uma combinação de sabores antigos em novo formato. Mas essa é apenas uma suposição deste que vos escreve.
Aliás, a combinação vai muito além de história e forma. Outra sobremesa-destaque no menu do NasoRosso é um flerte com a culinária internacional. Trata-se de um taco nada comum. São duas bolachas de milho recheadas com Semifreddo (um creme bem gelado) aromatizado com trufa Bianchetto e parmesão. A base crocante e o recheio macio são cobertas com frutas vermelhas e calda de tomilho.
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O projeto do restaurante NasoRosso é resultado de uma cuidadosa análise de seu passado , enquanto instituição culinária, e do contexto da gastronomia moderna. O menu resgata antigos sabores em novas roupagens. O espaço, por sua vez, resgata antigas cores e movimentos e as encaixa em uma estrutura moderna. Ambas as expressões, gastronomia e arquitetura, andam na mesma direção.
Sendo assim, o NasoRosso é um exemplo de como a arquitetura pode traduzir identidade e missão de um negócio de forma autêntica, fluida e – ainda assim – objetiva.
Leia mais:
referências
*Atenção: Preços tomam como base a data de redação deste conteúdo. Podem sofrer alterações a qualquer momento e sem aviso prévio.
TIPs Architects – escritório responsável pelo projeto, site
Revista Cremashop Magazine – edição de Maio / 2021, site
Cucina Naturale, site
Gastronomia Carioca – artigo interessante sobre a Mostarda italiana, site
Home Adore, site
ArchiLovers, site
Fotografias do ambiente por Daniel Pavesi, site
Autor Fernando França
Formado em Gestão Empresarial, apaixonado por Design, escritor por vocação. Fernando tem mais de 7 anos de experiência gerenciando e desenvolvendo negócios na área de Gastronomia. Eterno pesquisador de tendências, devora informações sobre projetos que unem estética, função, empatia e sustentabilidade. Veio ao projeto Dona Arquiteta para contribuir com o que pode haver de melhor sobre o assunto.
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