O que fazer em Recife: roteiro por igrejas, museus e sinagogas
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O que fazer em Recife: roteiro por igrejas, museus e sinagogas

Escrito por Sarah Borges | Publicado em:
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No Recife Antigo, casarões coloniais coexistem com o Edifício Acaiaca, marco do modernismo à beira-mar. A fusão de urbanismo europeu do século XVII com arquitetura moderna da metade do XX faz da cidade um destino de arquitetura e design com identidade própria.

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Ao se perguntar o que fazer em Recife, o frevo e as belas praias são as primeiras imagens mentais que aparecem. A capital de Pernambuco leva o rótulo de “Veneza brasileira” e este apelido refere-se à série de canais e pontes que costuram a cidade, criando trajetos fluviais que rearranjam a paisagem urbana.

Mas, o que de fato torna a cidade única é o rico mosaico de estilos e estéticas encontradas por toda capital. É a convivência entre o urbanismo do período holandês e os edifícios modernistas do século XX que dão à cidade sua identidade singular. 

Patrimônio arquitetônico colonial

Ao mergulhar nas opções de o que fazer em Recife, os olhos logo voltam ao Recife Antigo. Considerado o núcleo urbano da capital, a região se firmou como referência técnica para o patrimônio arquitetônico colonial.

A Praça do Marco Zero, hoje revitalizada, ainda funciona como marco urbano de partida: todas as distâncias da cidade são medidas a partir dali. Historicamente, foi o núcleo da cidade original — uma estreita lingueta de terra entre rios e mar que foi ampliada com aterros ao longo dos séculos. Esse processo de aterrar áreas alagadiças permitiu a abertura de vias regulares e a implantação de canais, resultando no caráter singular da malha urbana do Recife. 

Praça urbana com edifícios históricos e modernos ao redor de um mosaico circular, a Rosa-dos-ventos, em tons de azul e verde. A cena é dominada por uma mistura de arquitetura colonial e contemporânea, com ruas movimentadas e um rio ao fundo. A atmosfera é vibrante e cultural, destacando a rica história e o design urbano de Recife.
O mosaico central da praça é uma Rosa-dos-ventos criada por Cícero Dias em 1999. | Foto: Tripadvisor (Reprodução)

Ao caminhar pela Rua do Bom Jesus (antiga Rua dos Judeus), é possível ver casarões que combinam traços holandeses com portugueses. O urbanismo holandês, consequência da ocupação de Maurício de Nassau no século XVII, introduziu um sistema de lotes alinhados em quadras estreitas, com vias paralelas à margem do rio Beberibe. Casas geminadas surgiram pela necessidade de aproveitar espaço limitado, e sobrados altos substituíram construções mais baixas, como reflexo da densidade populacional imposta pelos colonizadores.

Rua pavimentada com pedra lioz molhada, refletindo a luz suave do entardecer. Edifícios coloridos em tons de azul, rosa e amarelo ladeiam a rua, com varandas e janelas ornamentadas. Grandes árvores verdes com troncos robustos e galhos espessos fornecem sombra e adicionam um toque de natureza à paisagem urbana. A atmosfera é tranquila e serena, com uma sensação de charme histórico e estética vibrante, característica do design colonial brasileiro. A composição equilibra a arquitetura e a vegetação, criando uma experiência visual harmoniosa e convidativa.
A pavimentação original da Rua do Bom Jesus incluía calçadas em pedra lioz, um calcário importado de Portugal, usado no meio-fio e como laje. | Foto: Mtur Destinos (Reprodução)

A Sinagoga Kahal Zur Israel, na Rua do Bom Jesus, é a primeira sinagoga das Américas e um dos marcos históricos da cidade. Em escavações arqueológicas conduzidas pela UFPE e o IPHAN, descobriu-se um mikvê feito de pedras empilhadas sem argamassa e com 1,5 m de profundidade. Esse poço ritual de purificação judaica foi validado por especialistas rabínicos e confirma a prática do culto de forma precisa no século XVII. A planta interna da sinagoga, apresenta salão de oração com disposição simétrica do mobiliário.

A imagem mostra o interior de uma sinagoga histórica, aKahal Zur Israel,com um teto ornamentado e paredes de pedra. O teto é adornado com padrões geométricos e decorações intricadas, destacando-se em tons marrons e brancos. A iluminação suave emanando de lustres adiciona uma atmosfera quente e acolhedora. No centro, há uma mesa coberta com uma toalha de renda branca, cercada por bancos de madeira. Ao fundo, pode-se ver uma arca da Torá, indicando a importância religiosa do espaço. A composição equilibrada e a atenção aos detalhes refletem um design cuidadoso, transmitindo uma sensação de reverência e tranquilidade. O que fazer emrecife
A reconstituição da sinagoga Kahal Zur Israel preserva o piso original em oito níveis estratigráficos descobertos nas escavações. | Foto: Sinagoga Kahal Zur Israel (Reprodução)

No Recife Antigo, muitos sobrados coloniais utilizam taipa de pilão ou pau a pique, técnicas que combinam madeira e barro. O pau a pique, por exemplo, funciona com vigas de madeira entrelaçadas e preenchidas com barro, gerando paredes resistentes e com térmica agradável. Em edificações mais robustas, apareceu a alvenaria com tijolos de adobe ou pedra, permitindo construções mais amplas. Elementos de cantaria (pedras esculpidas artesanalmente), como cornijas e molduras de janelas, também aparecem em sobrados mais ricos e salas públicas, sinal de influência portuguesa e status social.

Visitar o Marco Zero, caminhar pela Rua do Bom Jesus e conhecer a Kahal Zur Israel possibilita entender como o urbanismo do século XVII se entrelaça com construções sólidas e funcionalidade. Você pode reservar seu passeio aqui.

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Arte e design contemporâneo – Os Brennand

Quando se busca o que fazer em Recife, a Oficina Francisco Brennand surge como parada obrigatória. Reaproveitando estruturas fabris de forma inteligente, o museu traduz uma arquitetura adaptativa ao desdobrar antigas instalações de uma fábrica em galerias, pátios e jardins. A base arquitetônica original, ainda visível, delineia o contorno da antiga olaria São João; sobre ela, cresceu um complexo que abriga esculturas, murais e ateliês com circulação fluida, sem perder a sensação de intimidade criativa.

“reunir, num só lugar, toda magnitude da arte antiga, que jamais separou a pintura da arquitetura nem da escultura.”

Francisco Brennand

Pátio da Oficina Francisco Brennand em Recife, apresentando uma fonte central com estátuas e uma estrutura de tijolos vermelhos com janelas em arco. A cena é emoldurada por folhagem verde, transmitindo uma atmosfera serena e artística. A composição destaca a mistura de elementos naturais e arquitetônicos, com a fonte como ponto focal.
É chamado de o conjunto arquitetônico e artístico composto por pátios, jardins, templos, galpões, galerias, praças” | Foto: Marinez Teixeira da Silva (Reprodução)

Mesmo quem não é especialista identifica o impacto: Burle Marx projetou os jardins da Oficina, unindo espécies tropicais em formas livres que respiram junto às esculturas cerâmicas. O paisagismo de Marx (jardins com plantas regionais dispostas em composições naturais) realça a monumentalidade das obras, promovendo diálogo entre arte e natureza.

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Já o Instituto Ricardo Brennand, erguido como um “castelo” contemporâneo, é outra construção singular: abriga cinco importantes estruturas museais (entre elas o Museu Castelo São João)  em estilo que remete ao gótico-tudor, mas executado com infraestrutura moderna. O edifício utiliza distribuidores internos e áreas de convivência que valorizam a contemplação de objetos históricos. Sua curadoria reúne pinturas de Frans Post e uma extensa coleção de armaria medieval e renascentista.

O que fazer em Recife: A imagem apresenta uma vista aérea do Instituto Brennand, um complexo arquitetônico impressionante em Recife. O edifício principal, de estilo Tudor, destaca-se com suas paredes de tijolo vermelho e telhado verde, reminiscente da arquitetura gótica medieval. Ao redor, extensos jardins exuberantes e palmeiras pontuam a paisagem, criando uma atmosfera serena e convidativa. Um lago com uma pequena ilha e uma ponte de madeira adiciona um toque de tranquilidade à cena. A composição harmoniosa de estruturas históricas e natureza exuberante destaca a curadoria cuidadosa do acervo e a estética do local.
O estilo Tudor do Instituto foi incorporado à construção original (Museu Castelo São João), o que reforça a conexão estética com a arquitetura gótica medieval e a curadoria do acervo. | Foto: Copa do Brasil (Reprodução)

Para quem deseja aproximar tradição ceramista e design contemporâneo, uma excursão de meio dia funciona perfeitamente: comece pela Oficina Francisco Brennand, caminhe pelos pátios internos e jardins de Burle Marx; siga até o Instituto Ricardo Brennand, explore o castelo, a pinacoteca e os jardins com esculturas ao ar livre; em seguida, finalize no Parque das Esculturas, um museu a céu aberto com 90 peças monumentais instaladas sobre um arrecife natural em frente ao Marco Zero, incluindo a Torre de Cristal, obra de cerâmica e bronze de 32 metros.

A antiga fábrica de tijolos (Oficina Francisco Brennand), hoje aberta à visitação, é um exemplo de arquitetura adaptativa (quando um espaço industrial ganha nova vida como equipamento cultural). Já no Instituto fundado por Ricardo Brennand, as exposições são organizadas com curadoria que considera o impacto visual, a circulação do público e a relação entre as obras. 

Essa combinação de espaços evidencia que Recife não esconde sua arte em museus fechados; ela está desafiadoramente integrada ao desenho urbano e à paisagem. A visita aos espaços culturais fundados pelos Brennand, não exige conhecimento prévio pois conjuga técnica e emoção.

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Arquitetura Religiosa Barroca

A Capela Dourada, inaugurada em 1697 e concluída aproximadamente em 1724, representa o ápice do barroco pernambucano. Cada centímetro interno é coberto por talha dourada (madeira entalhada recoberta por finas lâminas de ouro de 22 quilates), criando uma decoração rica e cenográfica típica da estética barroca portuguesa. 

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Os painéis do teto da Capela Dourada foram pintados entre 1701 e 1702. | Foto: Matt Dowdeswell (Reprodução)

Os painéis do teto, mostrando santos da Ordem Franciscana e virtudes cristãs, tem autoria atribuída a José Pinhão de Matos. Esses elementos visuais dialogam com a talha e os azulejos portugueses dispostos nas laterais, formando uma composição que equilibra escultura, pintura e revestimento cerâmico.

A técnica de talha, executada na capela-mor, por Antônio Martins Santiago em 1698, exige alta precisão: esculturas detalhadas (nichos, colunas retorcidas, frisos  e anjos) são esculpidas em cedro, depois douradas em relevo profundo. Toda a ornamentação é projetada para criar efeitos de luz e sombra que chamam atenção para altares e retábulos.

O Convento e Igreja de Santo Antônio, anexo à capela, complementa a experiência barroca. O interior apresenta painéis de azulejos portugueses do século XVIII, teto em abóbada de berço e altares laterais em talha rococó mais leve e colorida. A nave única e o púlpito em madeira ricamente trabalhada reforçam o caráter de verticalidade e drama litúrgico típico do barroco tardio.

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O claustro do convento exibe painéis de azulejos holandeses que cobrem os corredores desde o século XVIII, ilustrando cenas bíblicas. | Foto: Tripadvisor (Reprodução)

Estilisticamente, o conjunto exibe soluções herdadas do barroco joanino português — talhas exuberantes, pinturas integradas e azulejaria alinhada a códigos visuais lusitanos. As pinturas parietais respeitam a estrutura dos caixotões do teto, enquanto o arco cruzeiro conecta a Capela Dourada à nave principal por uma grade trabalhada em ferro que marca passagem física e simbólica.

A Capela Dourada e o Convento de Santo Antônio formam uma unidade arquitetônica que ilustra com precisão técnica a evolução do barroco no Recife.

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Gastronomia em espaços com design

Ao considerar o que fazer em Recife, vale incluir experiências em ambientes que combinam arquitetura com gastronomia. Entre os pontos turísticos do Recife, o Restaurante Leite e o La Casa ilustram como o design e a comida se entrelaçam.

No casarão da Praça Joaquim Nabuco, o Restaurante Leite (fundado em 1882) preserva o ar aristocrático original: piso em tacos de madeira, cristais Baccarat, prataria Christoffle e toalhas de damasco importadas, todos elementos que evocam a elegância da Belle Époque. O cardápio, fiel à cozinha portuguesa, destaca-se com pratos clássicos como bacalhau e a tradicional cartola. O espaço conjuga requinte histórico a uma atmosfera autêntica e formal.

Onde fica: Praça Joaquim Nabuco, 147 – Santo Antônio
Site: @restauranteleite
Faixa de preço: $$$$
Acessibilidade: Não é acessível para cadeirantes.

No bairro de Casa Forte, o La Casa fica encravado nos jardins do Solar Latache Pimentel, um casarão do século XIX com arquitetura histórica marcante. O restaurante se integra ao verde preservado do palacete: mesas distribuídas em varanda e gramado, com mobiliário simples que respeita o entorno, sem competir com a atmosfera original. O cardápio traz frutos do mar e carnes bem executadas — pense num risoto de camarão e tornedor de filé complementados por drinques autorais como o “Bella” (vodka com pitaya e a surpresa do pirulito de uvas). A proposta é moderna, mas a atmosfera confirma o papel ativo da arquitetura histórica no projeto gastronômico.

Onde fica: Av. Dezessete de Agosto, 1893 – Parnamirim
Site: @lacasarecife
Faixa de preço: $$ – $$$
Acessibilidade: Não há acessibilidade para cadeirantes.

Roteiro integrado Recife-Olinda

Incluir Recife em um roteiro com Olinda traz uma continuidade cultural rica e coerente. Os pontos turísticos do Recife e de Olinda se complementam em estilo, cor e história e há uma excursão oferecida pela Viator que articula justamente esses elementos.

O passeio une Olinda e o Instituto Ricardo Brennand em Recife, conectando dois polos culturais em um roteiro de cerca de 5 horas. Em Olinda, visita-se igrejas barrocas, ateliês e mirantes, como o Alto da Sé e o Mosteiro de São Bento. Depois, o tour segue para o Instituto, um castelo-museu com jardins formais e a maior coleção de obras de Frans Post, além de armaria europeia. A excursão inclui transporte, entrada e guia multilíngue. É uma forma prática de conhecer dois ícones da região em um mesmo dia, com foco em arte, história e experiências sensoriais.

Explorar o que fazer em Recife vai muito além dos pontos turísticos tradicionais. Da Oficina Francisco Brennand ao Instituto Ricardo Brennand, passando pelo Jardim Burle Marx e experiências gastronômicas como o La Casa, a cidade revela uma cena cultural pulsante e sofisticada. Recife e Olinda, quando visitadas em conjunto, formam um roteiro contínuo de arte, arquitetura e memória em permanente transformação.

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