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Onde fica o Estádio Nacional do Japão?
Kasumigaokamachi, Shinjuku — Tokyo, no Japão.
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TÓQUIO, JAPÃO — O Estádio Nacional do Japão vai na contramão das arenas esportivas que tem sido construídas nas últimas décadas para abrigar grandes eventos. Sob a tutela do renomado arquiteto Kengo Kuma, é um modelo de edifício sustentável, representativo e bem projetado.
O Estádio Nacional do Japão foi anfitrião durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão de 2020. O edifício substituiu o antigo estádio, que havia sido construído em 1958 e foi demolido em 2015. Mais humilde, contém fragmentos de cada uma das prefeituras japonesas entre os materiais da construção.

O projeto definitivo, que foi inaugurado em 2020, foi desenvolvido pela parceria entre o escritório Kengo Kuma & Associates (liderada pelo arquiteto homônimo), a Taisei Corporation e Azusa Sekkei Corporation.
A assinatura do arquiteto Kengo Kuma é nítida, com desenhos que fazem referência à arquitetura tradicional japonesa. No entanto, a engenharia empregada em seu desenho é extremamente moderna e faz uso do clima natural para controle térmico, ao invés de bloqueá-lo.

O olhar de Kengo Kuma para um “novo” Japão
O início das pesquisas dessa matéria levou à memória a análise feita por Rupert Wingfield-Hayes a respeito do atual Japão. Entre elogios, críticas e argumentos a partir do cotidiano japonês, Rupert afirma que o país estagnou. E parte disso é a resistência secular ao estrangeirismo. Tal percepção não é só de Rupert.
A questão da imigração no Japão é um tema sensível. Diferente de outros países que abrem os braços para preencher suas lacunas econômicas recebendo profissionais de outros países, como Alemanha ou Canadá, o Japão é mais hesitante. Mesmo diante de um possível colapso da previdência conforme a população envelhece e a taxa de natalidade diminui.
Talvez possa soar difícil compreender a expressão “estagnação econômica” diante do fato de que o Japão é a terceira maior economia do mundo. Algo que fica mais claro apenas quando comparamos a realidade atual com o boom econômico japonês, que se iniciou no pós-guerra e alcançou seu ápice na segunda metade a do século passado.
Foi nesta época dourada da história japonesa que um dos maiores edifícios esportivos do mundo foi concebido: o Yoyogi National Gymnasium (Ginásio Nacional Yoyogi) de Tóquio, construído como a maior arena dos jogos olímpicos de 1964. A arena até então, detinha o maior telhado suspenso do mundo e é um marco arquitetônico.
O Yoyogi National Gymnasium é um gigante de aço e concreto.
Para o Estádio Nacional do Japão, inaugurado em 2022, Kengo Kuma segue noutra direção. É sua mensagem, via arquitetura, de que o Japão não estagnou – pelo contrário, floresce numa nova e valiosa fase cultural

A nova era não é sobre expansão. Intimidade e experiência humana devem ser o tema da nova era. Minha proposta é muito íntima e muito humana
Kengo Kuma, arquiteto responsável pelo projeto.
O Estádio Nacional do Japão, projetado por Kengo Kuma, é mais humilde que o projeto do Yoyogi. Ele ainda mantém, com dignidade, seu status de mega arena. Apesar disso, seu design não rompe com a harmonia do entorno e se propõe a envelhecer com ele como velhos amigos. É um projeto sutil que é abrigado pela floresta do Santuário Meiji.
A altura do estádio foi reduzida. Sobre ele, surge o telhado composto por armações feitas de madeira e aço – com cerca de 60 metros de comprimento – com os tradicionais beirais japoneses. A composição de camadas, em três níveis, é inspirada nos pagodes da tradição principal do zen-budismo japonês.


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O estilo, que projeta edifícios modernos a partir de tradições japonesas, é uma assinatura de Kengo Kuma.
Há sempre um pedaço do velho Japão em seus desenhos. É o caso do balcão em madeira Hinoki (cedro) instalado no restaurante Endo at Rotunda (Londres), cuja mesma madeira se une às artes têxteis de Samiro Yunoki no Ace Hotel Kyoto e está presente até no Brasil através da cortina de réguas suspensas no Japan House (centro cultural instalado na Avenida Paulista).
Historicamente, Tóquio era uma cidade de edifícios de madeira. Depois da guerra, começamos a construir com concreto e aço, o que destruiu a bela cultura dos edifícios de madeira e a sensação de intimidade que eles criaram.
Kengo Kuma, Arquiteto do projeto

Apesar de parecer um aprofundamento quase arqueológico nas tradições japonesas, os projetos de Kengo Kuma apenas refletem as nuances de um país que ainda preserva templos milenares, vilarejos antigos e tampas de bueiro artisticamente trabalhadas.
É parte da intimidade, mencionada por Kengo Kuma, através do Estádio Nacional do Japão: não é sobre ostentar, é sobre pertencer.
Não é por acaso que os beirais façam uso de madeira de todos os cantos do Japão. O país, formado por 47 prefeituras, forneceu madeira de cada uma delas. O cedro predominou em 46 delas – Okinawa forneceu madeira de pinheiro Ryukyu.


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O Grande Beiral de Vento
O projeto do Estádio Nacional do Japão claramente resiste a tendência de arquitetura dos tradicionais estádios construídos para atender a iminência de grandes eventos esportivos. Uma tendência que têm causado danos progressivos ao meio ambiente.
E alcançar um desenho sustentável, equilibrando a climatização no interior do estádio e a eficiência energética, demandava uma solução criativa. Usar ar-condicionado não era uma opção.

Nós projetamos o estádio levando em consideração o vento
Hisao Kawano, Head de Design da Tensei Corporation.
O vento se tornou a ferramenta principal na climatização do estádio, graças aos beirais de madeira. Os beirais direcionam a brisa fresca do verão – que vem à sudeste do estádio – enquanto a mesma estrutura bloqueia o vento frio soprado à noroeste (durante o inverno).
A técnica, chamada Kaze no Obisashi (Grande Beiral de Vento, em tradução literal), consegue este feito através do planejamento minucioso do espaçamento entre as treliças que formam o beiral.
Por exemplo, os beirais do lado sul-sudeste são mais estreitos (para captar o vento do verão) e direcioná-los para as arquibancadas. Já o lado norte mantém beirais com espaçamento largo para desviar os ventos de inverno.
Foram realizadas cerca de 1000 simulações – trabalhado desempenhado pela equipe da Tensei Corporation, liderada pelo engenheiro Hisao Kawano – com cada uma das 17 seções dos grandes beirais. Apenas assim conseguiram obter a configuração perfeita.

Um estádio reflete a época e a sociedade em que foi construído. Também estou feliz por termos conseguido harmonizá-lo com a floresta do santuário Meiji Jingu nas proximidades.
Hisao Kawano, Head de Design da Tensei Corp.

A floresta flui pelos interiores do Estádio Nacional do Japão
Os 68 mil assentos do Estádio Nacional do Japão são pintados em diferentes tons de terra e verde. O resultado é um mosaico com padrão que se assemelha a da própria floresta. A escolha de uma variação de cores nos assentos tem uma função pragmática: em caso de estádio vazio, oferecem a ilusão de arquibancada cheia.
A madeira está presente nos interiores e exteriores do estádio, em especial nos vestiários dos atletas e nos espaços de convivência. Não podemos deixar de mencionar a presença de componentes vivos, através das 48.000 plantas que preenchem a borda dos três níveis do estádio.
Também é importante considerar os vizinhos, e por vizinhos quero dizer as colinas, rios, prédios e as pessoas ao nosso redor. Onde quer que estejamos construindo, é importante para nós nos tornarmos amigos da área. – Kengo Kuma.

O processo de desenvolvimento e construção do Estádio Nacional do Japão também merece destaque.
O projeto de Kengo Kuma e parceiros não foi o primeiro design aprovado para a arena. Na realidade, o projeto original havia sido desenhado pelo escritório da arquiteta Zaha Hadid. Polêmicas envolvendo o alto orçamento do projeto levou o primeiro-ministro da época, Shinzo Abe, a cancelá-lo.
Kengo Kuma e seus parceiros tiveram o triplo desafio de representar bem a arquitetura japonesa, enquanto lidavam com orçamento e prazo apertados.
E você, acredita que eles foram bem-sucedidos? Participe da discussão com sua opinião aqui embaixo, nos comentários, ou lá no nosso perfil do Instagram.

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Fontes
Kengo Kuma & Associates
Re-thinking the Future
Japan News
Slate
ArchDaily
Architectural Digest
ArchEyes
BBC News
TatleAsia
Autor: Fernando França
Formado em Gestão Empresarial, apaixonado por Design, escritor por vocação. Fernando tem mais de 7 anos de experiência gerenciando e desenvolvendo negócios na área de Gastronomia. Eterno pesquisador de tendências, devora informações sobre projetos que unem estética, função, empatia e sustentabilidade. Veio ao projeto Dona Arquiteta para contribuir com o que pode haver de melhor sobre o assunto.